Mais um ano, mais um mês, um dia, uma hora, um minuto, um segundo. Tempo perdido, aproveitado, esquecido ou recordado, isso não importa, passou e não vai voltar.
Estava a refletir acerca desta questão do tempo quando sem querer fiz uma analogia do amor, uma vida, numa semana, eis as minhas conclusões:No primeiro dia tudo é perfeito, os olhos abrem ligeiramente e contemplam a luz pela primeira vez, tudo à volta provoca espanto, é um mundo novo, é a alegria de estar vivo. No segundo dia as coisas evoluem, nem tudo é prefeito, mas pelo menos é próximo disso, continua a sorrir, a ter um motivo para tal, os olhos, apesar de mais abertos agora, continuam semi-cerrados com medo que a luz os segue e aquela imagem sobrenatural desapareça, o corpo começa a mexer, devagar, com medo de ser demasiado frágil que qualquer movimento brusco possa partir. É no meio desta alegria que o terceiro dia surge, uma chapada que acorda o corpo dormente e lhe abre os olhos, que mostra as imperfeições do mundo. Quando vemos o cenário que esse corpo, agora desperto atravessa, chegamos à conclusão que de alguma forma se relaciona connosco, que é o nosso amor, a nossa relação que terminou, ficamos algo desiludidos, pensamos que é "na boa", que estamos melhor assim, que assim é mais fácil, dizemos um falso adeus e ordenamos ao nosso corpo que se desprenda do que aconteceu. Mas é nessa altura que o quarto dia chega, quando o nosso corpo não obedece, quando dizemos que não é possível tanta coisa ter mudado em tão pouco tempo, quando na realidade já não temos a certeza de como é que estávamos melhor, quando tentamos que tudo volte a ser como antes e só obtemos um falhanço, quando percebemos que as coisas fugiram do nosso controle e que agora estão incontroláveis, e mais uma vez juramos que esta foi a última vez que tentamos. É neste misto de sentimentos como a repulsa, o amor, a rejeição, o ódio e a raiva que o quinto dia chega, quando queríamos que a semana já tivesse acabado, quando o corpo se balança ao sabor do vento sem um destino predefinido, quando não queremos sentir ciúmes mas continuamos a senti-los, quando queríamos odiar a outra pessoa mas continuamos a amá-la, quando adormecemos e acordamos a pensar nela, quando queremos que ela saia da nossa vida e ela não sai, dizemos que acabou de vez, mas na realidade mantemos as esperanças. Oh aguardado sexto dia, és tu que vais preparar o corpo velho e usado para a morte, és tu que vais iniciar a conclusão da história, porque é no sexto dia que finalmente tomamos uma atitude, que dizemos acabou e que temos mesmo intenção de o fazer, e a partir daí seguimos em frente, as coisas continuam a ter importância mas ignoramos, ignoramos tudo o que aconteceu e tudo o que está a acontecer, os olhos continuam a cruzar-se e os corpos a tocar-se, mas já não têm a mesma intensidade, o sentimento diminui, e diminui, e diminui, tudo o que intensificava o sentimento deixa de fazer sentido, começa a desaparecer. E finalmente a conclusão da semana, o sétimo dia, quando podemos finalmente descansar em paz. Dizemos palavras de agradecimento à pessoa com quem começamos a semana e a todas as outras que nos ajudaram a continuá-la quando a outra nos abandonou, olhamos para os objetos referentes aos primeiros dois dias, já não significam nada, vemos as fotografias, lemos os textos românticos e tudo o que sai é um sorriso, não há saudade, não há mágoa, apenas paz, a tão aguardada paz. Aquele corpo finalmente morreu, foi enterrado para nunca mais ressuscitar. Aceitamos as recordações do passado e caminhamos rumo a uma nova semana, é um ciclo vicioso porque tudo tem um princípio, mas também um fim. Parece que me enganei, parece que afinal o meu tempo nunca parou, mesmo que lentamente ele esteve sempre a correr, agora consigo perceber isso.
Olho pela janela e vejo os primeiros raios de Sol da madrugada, é o início do sexto dia ...
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